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Live Shopping no Brasil: Como as Transmissões Ao Vivo Reestruturam as Vendas Digitais

O comércio eletrônico no Brasil está vivendo uma nova fase: o live shopping. Inspirado no modelo asiático, o formato mistura entretenimento, interatividade e vendas em tempo real por meio de transmissões ao vivo em plataformas como Instagram, YouTube e TikTok. O consumidor não apenas assiste, mas interage com o apresentador, tira dúvidas no chat e compra o produto imediatamente.

Se para as marcas essa estratégia representa conversão rápida e engajamento emocional, para influenciadores e criadores de conteúdo abre-se um novo canal de monetização. Mas o crescimento acelerado do live shopping também traz desafios jurídicos: publicidade enganosa, responsabilidade por ofertas, direitos de devolução e proteção de dados em transmissões ao vivo estão no centro do debate. O desafio é claro: como aproveitar o potencial dessa tendência sem deixar de lado a segurança jurídica?

O Poder do Live Shopping

O sucesso do live shopping está na interatividade. Diferente de anúncios estáticos ou campanhas programadas, o consumidor pode interagir em tempo real, perguntar, comparar e ser convencido pela demonstração imediata. Essa combinação de proximidade e urgência cria um ambiente de confiança e impulsividade.

Estudos mostram que a taxa de conversão em eventos de live shopping é significativamente superior à de e-commerces tradicionais. No Brasil, grandes varejistas já adotam o formato, e influenciadores digitais encontram nele uma nova forma de consolidar autoridade e gerar receita. É, portanto, uma tendência que conecta tecnologia, marketing de influência e comportamento social.

Os Riscos Jurídicos das Vendas Ao Vivo

A informalidade das transmissões pode levar a falhas graves de conformidade legal. Entre os principais pontos de atenção estão:

Publicidade enganosa: promessas feitas durante a live precisam ser claras e verdadeiras. Caso contrário, podem gerar responsabilização com base no Código de Defesa do Consumidor.

Políticas de devolução e troca: mesmo em compras feitas ao vivo, o consumidor tem direito de arrependimento em até 7 dias, conforme o artigo 49 do CDC.

Responsabilidade solidária: influenciadores que participam ativamente da promoção podem responder junto às marcas em caso de problemas com os produtos.

Proteção de dados: chats, cadastros e interações coletam informações pessoais que devem estar em conformidade com a LGPD.

Esses riscos não inviabilizam o formato, mas exigem preparação jurídica para que lives não se transformem em passivos futuros.

Boas Práticas para Marcas e Criadores de Conteúdo

Para reduzir riscos e aumentar a credibilidade, algumas medidas práticas são indispensáveis:

Redigir contratos claros entre marcas e influenciadores, prevendo responsabilidades específicas para transmissões ao vivo.

Informar de forma destacada as condições da oferta, preços, prazos de entrega e política de devolução.

Manter registro das lives para eventual prova em litígios.

Implementar políticas de proteção de dados nos chats e cadastros vinculados ao evento.

Evitar pressões indevidas ou práticas que possam caracterizar venda casada ou abusiva.

Essas práticas fortalecem a confiança do consumidor e profissionalizam o formato, consolidando o live shopping como ferramenta de longo prazo.

Conclusão

O live shopping representa a evolução natural do e-commerce no Brasil, unindo a força do marketing de influência à interatividade digital. Seu potencial de vendas é enorme, mas só se sustenta quando alinhado à transparência, à proteção do consumidor e à responsabilidade jurídica.

Para marcas, influenciadores e empreendedores digitais, a chave está em tratar cada transmissão não apenas como entretenimento, mas como uma relação contratual de consumo. Assim, o live shopping deixa de ser uma moda passageira para se tornar um canal sólido e confiável da nova economia digital.

Daniel Callejon Barani
Sócio – Scartezzini Advogados Associados

daniel.barani@scartezzini.com.br

Publicado 30/09/25 por Daniel Barani.


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